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Política frágil de abrigamento abre espaço para a farra adolescente

A política frágil de abrigamento municipal abre brecha para a farra de adolescentes em situação de rua em Belo Horizonte. Jovens acolhidos em centros de passagem conveniados com a prefeitura não frequentam a escola e desfrutam de noitadas que incluem drogas, furtos e prostituição na região hospitalar. Após a “diversão”, meninos e meninas são recebidos novamente nas instituições e podem planejar a próxima ocasião de abusos.

Passava das 15 horas no Centro de Passagem Vila Eunice, em Venda Nova, na última quarta-feira (8), quando R.R.D., de 14 anos, e G.F., de 16, se levantaram da cama, após a madrugada na região hospitalar. Ainda sonolentas, as meninas contaram que fugiram na noite anterior, usaram diversas drogas e puderam retornar ao abrigo após se apresentarem no plantão do Conselho Tutelar, no bairro Floresta, na região Leste. “Fomos para o conselho por volta das 3 horas e eles trouxeram a gente, de carro, para cá”, afirmou R.

A rotina de fuga e acolhimento das garotas se repete há cerca de um mês, segundo a educadora social do abrigo, Rosilene Aparecida Lima. “Elas chegam a evadir mais de uma vez por dia”.

Além de R. e G., mais quatro meninas afirmaram já terem fugido para a região hospitalar e retornado, depois, ao abrigo. Órfã de mãe, L.M.C., de 14, chegou lá porque não pôde ser criada pelo pai, que sofre de alcoolismo. Ela conta que passou a usar drogas após conviver com as colegas do Vila Eunice. “Quando a gente sai, eu cheiro pó, tíner, loló, fumo maconha e só”.

Como estão sob medida de proteção, as garotas não podem ser impedidas de deixar os abrigos ou punidas pelas constantes fugas. “A adolescente tem o direito de ir e vir e ela já sabe como usar a rede a seu favor. É preciso reestruturar essa organização”, argumenta a coordenadora do Vila Eunice, Aparecida Gonçalves.

A conselheira tutelar Elizabeth Ferreira confirma que a unidade de plantão recebe, diariamente, os mesmos jovens. “Eles sempre voltam para cá e encaminhamos de novo para os abrigos. A política pública deveria ter começo, meio e fim, e não manter essa roda vida”, avalia.

As meninas têm dificuldade para explicar como pagam pelas drogas. “A gente conhece uns caras e usa (drogas) com eles”, diz G. Contudo, o Hoje em Dia mostrou, em fevereiro, que os adolescentes que ficam na região hospitalar são incentivados por adultos a praticar pequenos furtos em troca de tíner e outras substâncias. A coordenadora do Vila Eunice relata que as meninas chegam a se prostituir para ganhar os entorpecentes.

Fonte:Hoje em Dia - 12/03/2012