Violência escolar impacta a aprendizagem:Cooperação e Desenvolvimento pela Infância e Juventude

28 de jun. de 2011

Violência escolar impacta a aprendizagem

A violência escolar é uma questão que desperta grande preocupação entre professores, pais, estudantes e formuladores de políticas. O tema tem sido bastante discutido por especialistas e pelos meios de comunicação.

Evidências mostram que há relação entre as características do ambiente escolar e o desempenho dos estudantes e seu comportamento. Embora houvesse indícios dessa conexão, esse impacto ainda não havia sido quantificado. O economista Sergio Firpo, da Fundação Getulio Vargas (FGV- SP), levando em consideração esse contexto, investigou a relação entre violência escolar e a proficiência dos estudantes.

O estudo, que foi apresentado no final de maio durante o Seminário Itaú de Avaliação Econômica de Projetos Sociais, em Salvador, mostra que, em média, estudantes que frequentam escolas mais violentas apresentam piores desempenhos em testes de proficiência. Episódios de violência nas escolas estão associados a reduções de proficiência escolar que vão de 1,8% na escola menos violenta a 3,1% na escola mais violenta da amostra analisada.

Para chegar a esses resultados, o pesquisador usou dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) 2003 e índices baseados em indicadores de violência dentro e fora da escola, reportados por diretores, professores e alunos. O estudo levou em consideração uma amostra de aproximadamente 80 mil estudantes, 6 mil professores, 3 mil grupos escolares e 1.800 escolas públicas.

Na opinião do especialista, a escola é um reflexo do que ocorre na sociedade. "As políticas públicas de repressão à violência são muito importantes, mas acredito que o combate a esse problema passe necessariamente por uma mudança cultural. É preciso mudar os hábitos no âmbito das famílias, das relações interpessoais e profissionais. Além disso, a abertura das escolas para a participação das famílias é uma questão que merece estar no foco das atenções. Essa ideia de que os pais não estão interessados em acompanhar o desenvolvimento escolar de seus filhos não é verdadeira", afirma.

Segundo dados da pesquisa, uma das principais questões relacionadas com a violência é a presença de tráfico e/ou consumo de drogas, problema notificado por aproximadamente metade das escolas brasileiras.

Além disso, o estudo investigou a correlação entre violência e a rotatividade dos professores. A existência de agressão física nas escolas e a presença de tráfico e/ou consumo de drogas reduz a probabilidade de as turmas terem apenas um professor de Português durante o ano acadêmico em aproximadamente 38% e aumenta a probabilidade de rotatividade em aproximadamente 6,5%.

O estudo também identificou que o número de estudantes em sala de aula e de beneficiários do antigo programa federal Bolsa-Escola são fatores que amplificam a correlação entre violência e proficiência. Para Firpo, no que se refere ao Bolsa-Escola, uma interpretação possível para esse resultado está no fato de que o programa atende comunidades economicamente mais vulneráveis e mais suscetíveis à violência.

Por outro lado, a pesquisa apontou que a qualificação e a formação recente dos professores são fatores que reduzem a correlação entre violência e proficiência. "Em minha avaliação, a partir dos resultados encontrados no estudo, apostar na formação contínua dos professores, atrair e reter talentos para a rede de ensino, a partir de um plano de carreira que inclua melhores salários, deveriam ser as ações prioritárias do poder público", finaliza.


Fonte:Fundação Itaú Social

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