Inesc
desenvolve projeto que atende adolescentes que cumprem medidas socioeducativas
em privação de liberdade. Dentro de oficinas, os jovens criam suas próprias mídias e dão seu recado para o mundo. Confira entrevista sobre o assunto com
Márcia Acioli, assessora política do Inesc.
Em entrevista para o Inesc Notícia, Márcia Acioli, assessora
política do Inesc, responsável pelo projeto Onda: adolescentes em movimentos
pelos direitos, expõe sobre a atuação da iniciativa dentro de uma instituição
de privação de liberdade do Distrito Federal. Márcia explica o contexto de
violência vivenciado pelos adolescentes, descreve sobre o intercâmbio de jovens
realizado dentro do projeto e destaca a importância dos produtos desenvolvidos
pelos adolescentes. Confira a entrevista completa.
O projeto Onda desenvolve
ações com adolescentes que cumprem medidas socioeducativas e privação de
liberdade desde o ano passado. Como surgiu essa ideia?
Consideramos os meninos e as meninas que cumprem medidas como
público prioritário uma vez que são pessoas que viveram a infância e a
adolescência em situação precária em contextos violentos. Em regra as políticas
públicas não chegaram a eles e a cidadania sempre foi uma perspectiva
desconhecida. Não é raro vermos adolescentes tendo acesso a dentista, a
psicólogos pela primeira vez dentro da instituição. Direitos foram um termo
distante de suas experiências pessoais ou coletivas.
O Onda faz uma integração entre os internos e os adolescentes que não cumprem medidas socioeducativas. Como tem sido essa integração e que tipo de resultado ela tem surtido?
A nossa intenção era desmistificar um grupo perante o outro e
criar um clima mais solidário, propício para um trabalho pedagógico mais
consistente, provocador de mudanças lado a lado.
O que percebemos é muito interessante, pois ambos passam a
conhecer outras perspectivas de relacionamento e, com isso, desenvolvem mais
respeito e compreensão pelo outro.
O projeto Onda já prima pelo intercâmbio - em cada oficina que
realizamos levamos adolescentes de uma realidade diferente para conhecer o
grupo com quem trabalhamos. Isso propicia abertura, ampliação de visão de
mundo, alargamento da consciência.
Sobre as atividades
desenvolvidas dentro do Caje. Quais são e como tem sido a receptividade dos
adolescentes?
Fizemos com os/as
adolescentes do Caje, a sequência de oficinas que desenvolvemos com
adolescentes que estão nas escolas, com algumas adequações. Trabalhamos com os
temas de direitos humanos, participação democrática, orçamento público e
comunicação. Os/as adolescentes internos demoram a confiar nos/as educadores/as
e agem com dureza nos corpos e muitos silêncios. Aos poucos conquistamos maior
envolvimento e quando conseguimos o resultado é muito interessante. Concluímos
as etapas dos nossos trabalhos com um programa de rádio e um programa de TV que
expressam as ideias que desenvolveram ao longo do tempo que estivemos juntos.
Com um produto final, eles ficam empenhados e se dedicam com muito entusiasmo e
sinceridade.
Você acredita que projetos como Onda pode melhorar a vida dos internos? Por quê?
Você acredita que projetos como Onda pode melhorar a vida dos internos? Por quê?
O projeto traz para
eles/as o desenvolvimento da capacidade argumentativa e de negociação, promove
outros olhares sobre a vida e sobre a medida que cumprem, ajuda-os a perceber o
mundo por outros prismas. Neste sentido, sim, acredito que o projeto ajuda-os a
transformar um pouco de suas realidades.
Um projeto como o Onda pode desmistificar a imagem negativa que a sociedade tem em relação aos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas e privação de liberdade?
Um projeto como o Onda pode desmistificar a imagem negativa que a sociedade tem em relação aos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas e privação de liberdade?
Certamente. Quando os/as adolescentes criam suas próprias mídias,
o recado que dão ao mundo vai sem os filtros de uma sociedade intolerante,
racista e preconceituosa. Suas falas vêm de suas experiências, de suas emoções.
Eles mostram a sua humanidade e acrescentam ao grande público a possibilidade
de compreender melhor, inclusive o fenômeno da violência urbana.
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