VOZES SILENCIADAS PELA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS.:Cooperação e Desenvolvimento pela Infância e Juventude

20 de ago. de 2012

VOZES SILENCIADAS PELA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS.







Inesc desenvolve projeto que atende adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em privação de liberdade. Dentro de oficinas, os jovens criam suas próprias mídias e dão seu recado para o mundo. Confira entrevista sobre o assunto com Márcia Acioli, assessora política do Inesc.

Em entrevista para o Inesc Notícia, Márcia Acioli, assessora política do Inesc, responsável pelo projeto Onda: adolescentes em movimentos pelos direitos, expõe sobre a atuação da iniciativa dentro de uma instituição de privação de liberdade do Distrito Federal. Márcia explica o contexto de violência vivenciado pelos adolescentes, descreve sobre o intercâmbio de jovens realizado dentro do projeto e destaca a importância dos produtos desenvolvidos pelos adolescentes. Confira a entrevista completa.
O projeto Onda desenvolve ações com adolescentes que cumprem medidas socioeducativas e privação de liberdade desde o ano passado. Como surgiu essa ideia?
Consideramos os meninos e as meninas que cumprem medidas como público prioritário uma vez que são pessoas que viveram a infância e a adolescência em situação precária em contextos violentos. Em regra as políticas públicas não chegaram a eles e a cidadania sempre foi uma perspectiva desconhecida. Não é raro vermos adolescentes tendo acesso a dentista, a psicólogos pela primeira vez dentro da instituição. Direitos foram um termo distante de suas experiências pessoais ou coletivas.

O Onda faz uma integração entre os internos e os adolescentes que não cumprem medidas socioeducativas. Como tem sido essa integração e que tipo de resultado ela tem surtido?
A nossa intenção era desmistificar um grupo perante o outro e criar um clima mais solidário, propício para um trabalho pedagógico mais consistente, provocador de mudanças lado a lado.
O que percebemos é muito interessante, pois ambos passam a conhecer outras perspectivas de relacionamento e, com isso, desenvolvem mais respeito e compreensão pelo outro.
O projeto Onda já prima pelo intercâmbio - em cada oficina que realizamos levamos adolescentes de uma realidade diferente para conhecer o grupo com quem trabalhamos. Isso propicia abertura, ampliação de visão de mundo, alargamento da consciência.
Sobre as atividades desenvolvidas dentro do Caje. Quais são e como tem sido a receptividade dos adolescentes?
Fizemos com os/as adolescentes do Caje, a sequência de oficinas que desenvolvemos com adolescentes que estão nas escolas, com algumas adequações. Trabalhamos com os temas de direitos humanos, participação democrática, orçamento público e comunicação. Os/as adolescentes internos demoram a confiar nos/as educadores/as e agem com dureza nos corpos e muitos silêncios. Aos poucos conquistamos maior envolvimento e quando conseguimos o resultado é muito interessante. Concluímos as etapas dos nossos trabalhos com um programa de rádio e um programa de TV que expressam as ideias que desenvolveram ao longo do tempo que estivemos juntos. Com um produto final, eles ficam empenhados e se dedicam com muito entusiasmo e sinceridade.

Você acredita que projetos como Onda pode melhorar a vida dos internos? Por quê?
O projeto traz para eles/as o desenvolvimento da capacidade argumentativa e de negociação, promove outros olhares sobre a vida e sobre a medida que cumprem, ajuda-os a perceber o mundo por outros prismas. Neste sentido, sim, acredito que o projeto ajuda-os a transformar um pouco de suas realidades.

Um projeto como o Onda pode desmistificar a imagem negativa que a sociedade tem em relação aos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas e privação de liberdade?
Certamente. Quando os/as adolescentes criam suas próprias mídias, o recado que dão ao mundo vai sem os filtros de uma sociedade intolerante, racista e preconceituosa. Suas falas vêm de suas experiências, de suas emoções. Eles mostram a sua humanidade e acrescentam ao grande público a possibilidade de compreender melhor, inclusive o fenômeno da violência urbana.
 

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