
Com uma possível saída dos médicos, o hospital seria prejudicado em setores como a maternidade, terapia intensiva de recém-nascidos e atendimento nos alojamentos materno-infantil. "Sem a previsão de novas contratações ou a redução da demanda, pelo menos seis médicos devem se afastar", afirma a pediatra Juliana Senra de Coelho.
Nos últimos anos, o quadro de pediatras vem se reduzindo no hospital. Por conta da sobrecarga, a pediatra Magali Damaceno Nunes conta que, às vezes, pensa em abandonar o trabalho. "Mas eu gostaria mesmo que melhorassem as condições para que eu possa continuar a trabalhar aqui", afirma.
A médica Mariângela Nascimento Cruz trabalha no setor de pediatria do Júlia Kubitschek há 19 anos, desde a inauguração do hospital. Ela afirma que não foram raras as vezes em que assumiu sozinha o plantão. "É sempre bom ter um segundo colega para trabalhar junto com a gente", diz.
Na manhã de ontem, por exemplo, Magali se ausentou por quatro horas para cuidar da transferência de um paciente. Durante esse tempo, Mariângela foi a única pediatra responsável por cerca de 50 pacientes.
A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), responsável pela unidade, afirmou que os pediatras da instituição devem atuar nos 20 leitos de neonatal e 28 alojamentos materno-infantil. Além da atenção ao bebê no bloco cirúrgico. O hospital realiza cerca de 274 partos, ou seja, uma média de nove por dia.
Apesar das dificuldades, Mariângela vai contra a corrente e afirma que não pensa em pedir dispensa do hospital. "Só saio daqui quando ele fechar", garante. E demonstra se conformar com a situação. "Essas são coisas normais do serviço público".
Magali, que trabalha há cinco anos no local, assegura que nenhum paciente chegou a morrer por falta de médicos. Mas relata que os pediatras passam por vários apuros, como o que ocorreu nó último domingo. Uma plantonista estava sozinha e teve que se ausentar da sala de parto para atender a um recém-nascido que teve uma parada cardíaca.
A falta de profissionais não é exclusividade do Hospital Júlia Kubitschek, segundo o presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), Cristiano da Matta Machado. "Está acontecendo um sucateamento do sistema de saúde do Estado", afirma.
Ele atesta que o maior número de denúncias que chegam ao sindicato se refere a hospitais da Fhemig. Os profissionais reclamam das equipes incompletas, que gera uma rotina sobrecarregada que não corresponde ao salário concedido.
Segundo Cristiano, além do Júlia Kubitschek, a Maternidade Odete Valadares (MOV) está em estado de alerta. A instituição, em junho deste ano, restringiu pela metade o atendimento. O Ministério Público já foi acionado pelo sindicato para cobrar do Estado uma solução para os problemas.
A Fhemig não soube informar o número de pediatras que atuam no Hospital Júlia Kubitschek. No entanto, o órgão alega que a falta de pediatras é uma situação de crise no Brasil e não se restringe ao hospital citado.
A fim de resolver o número insuficiente de profissionais - seja qual for a área -, a Fhemig informou que já estão sendo convocados os médicos aprovados no último concurso, realizado em 2009. Mas, de acordo com Cristiano da Matta, 60% dos aprovados que foram convocados desistiram nos primeiros meses de trabalho em função do salário considerado insuficiente e da sobrecarga de trabalho.
Fonte:Hoje em dia 18/08/11
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